Quem come melhor,
navega melhor!
A bordo temos a tendência para estar sempre a comer, uns
amendoins, uns frutos secos, um chocolate, etc e vamos enganando a fome desta
maneira, até ela voltar de novo....
Este regime satisfaz a maioria dos navegantes a quando de
uma navegação de curta duração, em que muitas das vezes ao jantar podemos
sentar num bom restaurante e ter um bela refeição, sem grandes preocupações com
compras ou mesmo louça para lavar!
Este regime, de estar sempre a picar, atinge rapidamente o
seu limite na navegação de longo curso e é sobre a alimentação no longo curso
(mais de 3/4 dias a bordo sem vir a terra) que vou dedicar algumas linhas.
Do ponto de vista psicológico e físico o nosso organismos,
no longo curso, necessita de uma alimentação
mais equilibrada. O simples facto de permanentemente acompanhar os movimentos
da embarcação obriga-nos a trabalhar todos os músculos do nosso corpo. De uma
forma suave, mas de uma forma continua.
Consequente do dispêndio de energia, que se traduz de
imediato na necessidade de açucares recorrentes.... salvo se ingerimos açucares
lentos, cujo o indicie de glicemia é inferior a 55, como por exemplo lentilhas,
massas, arroz, pão de mistura e outros cereais...
O cálculo é fácil! Temos que ter em média diária por
tripulante 2.000 calorias e 3,5 litros de água, incluída a água para cozinhar
(se demolhar bacalhau todos os dias deverá levar mais água...).
Ter em consideração, por razões de segurança, embarcar 50% a
mais da alimentação mínima. Para uma viagem de 12 dias, embarcar alimentação
para 18 dias. Com 3 refeições por dia, falamos de 54 refeições em solitário,
108 para dois tripulantes, etc...
Igualmente ter em consideração o embarque de dez a doze dias
de rações de sobrevivência, em local acessível e em recipientes estanques, para o caso da necessidade de abandonar a
embarcação nas balsas de salvamento.
A tabela de caloria dos alimentos encontra-se disponível em
muitos sítios da internet, do tipo da que junto no final.
Poderão também encontrar na web vários menus.
Os menus devem ser pré definidos antes da viagem, em função
das escalas da viagem e de acordo com os gostos da tripulação.
Deve cada tripulante alertar o responsável por este item de
alguma necessidade especial em termos de alimentação.
Cada tripulante deverá também salvaguardar algum “mimo” que
entenda levar, tendo em atenção o peso.
A arrumação dos viveres deve ser cuidada e metódica.
Qualquer um destes caminhos é válido, quer usando os vários compartimentos da
embarcação para arrumar por tipos de produtos (salgados para um lado, doces
para outro, conservas noutro, etc); quer pelo outro caminho, que vem das
regatas, os produtos são arrumados num saco para o dia ou para a semana de
acordo com o menu estabelecido.
Na realidade o mais importante é ter um inventário completo
de todos os produtos e a sua localização a bordo. O Excel é óptimo para esta
tarefa...
Conservas:
Por várias razões o fogão do barco pode avariar ou ficar sem
gás...
As conservas de pratos cozinhados que não necessitam sequer
de serem aquecidos são preciosas nestas alturas.
Recorrer ás embalagens pequenas (entre 0,5 a 2 kg) em
prejuízo das grandes (5 kg).
É frequente que muitas destas embalagens fiquem por muito
tempo no fundo dos armários ou porões que normalmente são locais húmidos, sem
haver a necessidade das utilizar. Com estas condições é frequente que as latas percam
os rótulos ou estes não fiquem legíveis. Aconselha-se assim, que se marque com
um marcador á prova de água, num dos topos da lata, o que contem, bem como a
sua validade.
Carne:
De uma forma geral esta conserva-se entre dois a três dias
se for fresca e três a quatro meses se for salgada ou seca.
Uma perna de presunto suspensa na cabine é um excelente
companheiro de viagem!
Peixe:
Nada como o pescar !!
Os exemplares mais pequenos são mais fáceis de conservar e
cozinhar (fritadeira, forno ou barbecue); os de maior porte são mais
trabalhosos, pois tem de ser convertidos em postas, não é um trabalho do outro
mundo!
Arroz e massas:
Fáceis de conservar, cozinhar e baratas, um valor seguro
para qualquer marinheiro.
Prever 50 a 75 gr por pessoa e nunca cozer com água do mar,
ficam intragáveis. Mistura ¼ de água do mar e ¾ de água doce.
Se comprar embalagens de vários quilos, não deve hesitar em
separar para embalagens mais pequenas estanques, caixas, sacos, etc. Quando
aparecem aqueles antipáticos bichinhos pretos, ficam limitados a uma ou duas
embalagens.
Frutas e legumes:
Devem ser conservados em lugar fresco e arejado para que não
amadureçam ou apodreçam muito rapidamente.
Para um bom acondicionamento e evitar as compressões, as
redes de suspender são uma boa solução.
Optar por frutos e legumes que se conservem por mais tempo,
como por exemplo, laranjas, limões, coco, cebolas, alhos, batatas, pepinos,
pimentos, cenouras, entre outros.
Contemplar também os que se amadurecem mais depressa e que
devem ter uma verificação diária , como por exemplo pêssegos, peras, ameixas,
uvas, tomates, salada, kiwi...
Mesmo com todos os cuidados, prever entre 10 a 15% de perdas.
Ovos:
De boa conservação e longa duração. Fácil preparação.
Frágeis pela sua casca fina, devem ser mantidos nas suas
embalagens de cartão.
A fim de prolongar a sua conservação tem quem os embrulhe em
papel de jornal, ou passar com parafina na casca, ou dar um entalão até ficarem
brancos, etc. Qual seja o método, nada melhor que partir um ovo de cada vez numa
tijela separada, sentir o cheiro e ver o aspecto, fácil de ver um ovo podre....
e depois cozinhar.
Água:
A água que se encontrar armazenada nos reservatórios deve
ser adicionada de cloro (um percentual de 4 mg
de água sanitária, com 2,5% de cloro ativo, para cada 1000 de água).
Para retirar o cheiro e sabor do cloro, deve-se colocar a
água numa garrafa meter no frigorifico ou caixa térmica. O cloro transforma-se
em gás e evapora-se. O mesmo procedimento deve ser feito para a água que serve
para cozinhar. Para ferver a água 30% mais rápido, juntar um pouco de
bicarbonato!
Uma aproximação básica a uma ementa para uma semana, uma
tripulação de seis:
- 7 pequenos almoços, 500 gr de compotas, duas caixas de
cereais, dois kg de iogurte, duas caixas de tostas, dois pães grandes
(Mafra...), 500 gr de café, 250 gr de chá, 5 litros de sumo de frutas.
- 7 almoços, todas baseadas em saladas a partir de legumes
em lata (milho, feijão verde, lentilhas, tomate, palmitos, etc), acompanhada
com ovos, presunto, peixe em lata (atum, sardinhas, anchovas, etc), sem
esquecer o arroz. Assim, 14 latas de conservas de legumes, 7 latas de peixes,
presunto, 12 ovos, 1 kg arroz.
- 7 jantares, a partir de conservas de lata (choucroute,
salsichas, cornbife, etc) acompanhadas com massa, ou puré de batata em pacote.
Assim, 10 latas de conservas, 1 kg de puré de batata, salsichas, 1 kg de massa,
molho para carbonara e bolonhesa, por exemplo.
Claro que este exemplo é muito simples, podendo ser
melhorado com outras variantes e mimos
;-) queijos, vinhos, etc......
Ou mesmo os excelentes
quianzas da Fátima ;-), vide foto abaixo.
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