sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Pé de Vento - Info 25/11/2011



TERRA Á VISTA....
Terra á vista.... pelas 15:45 GMT foi içada a bandeira de Cabo Verde, abandonando as águas internacionais, já com Santiago á vista!
O andamento tem sido muito bom, com médias a melhorarem com um vento de Este com cerca de 20 nós.
A navegar com o pano rizado estão a fazer médias estonteantes...
A confirmar mas acredito que no dia de hoje temos um recorde de singradura :-)
A vaga manteve-se e consequentemente a água por todo o barco, debaixo da quilha e por cima do mastro...
Já com terra por perto e para evitar a chegada ao Mindelo de noite, provavelmente haverá uma paragem na Preguiça, ilha de S. Nicolau, para nada mais nada menos uma sessão de preguiça, por o pé em terra, uns bifes e claro está umas merecidas imperiais.
De manhã seguiram para o Mindelo, depois de uma noite descansada em porto de abrigo.
No ultimo contacto de hoje, já com rede normal de telemóvel, apresar de todas as dificuldades, vivia-se um ambiente a bordo como nunca presenciei ao longo desta viagem! Muita alegria.
O ultimo registo de rateio é das 23:59.
Até esta hora foram percorridas no dia de hoje 226 milhas náuticas e um total desde Luanda de 2.817.



Pé de Vento - Info 24/11/2011


Os nossos tripulantes mantém a animação e estão fixados na chegada. Sem margem para duvida que lhes está a trazer muita energia esta ideia.
A vaga continua a varrer o convés, mantendo tudo molhado a bordo.
A escala na Praia para abastecimento de combustível está posta de parte e rumam directos ao Mindelo.
Ficou definida a aproximação ao canal de entrada, S. Vincente / Santiago, seria por norte.
Mesmo com o vento de popa e constantes acertos de rota, as medias mantêm-se dentro do previsto.
O ultimo registo de rasteio é das 16:22....
Até essa hora foram percorridas no dia de hoje 113 milhas náuticas e um total desde Luanda de 2.615.


O Homem do Leme


Hoje em conversa com um grande amigo, veio á baila a estátua do Homem do Leme, escultura de Américo Gomes, 1934, na Foz na cidade do Porto.
Avivou-me memórias de infancia, brinquei muito aos pés desta estátua!

A maqueta da estátua encontra-se no Museu de Ílhavo e deixo algumas palavras do seu Director a este proposito.


“… o ulterior destino, em hora feliz proporcionado à maquette do “Homem do Leme”, cujo expressivo realismo fortemente me impressionou, desde que na Exposição Colonial do Porto tive ensejo de admirar tão equilibrada composição escultórica, veio pôr em evidência as reais e extraordinárias qualidades de observação e a técnica apurada do seu consciencioso autor.
Na verdade, pensado para simbolizar o esforço consciente e tenaz das navegações portuguesas e realizado expressamente para a vasta nave do Palácio de Cristal, o “Homem do Leme”, na salinha aconchegada do Museu Municipal de Ílhavo, onde veio encontrar carinhoso e seguro abrigo, nem destoa pelo inevitável contraste das suas dimensões nem corre o perigo de deixar incompreendido o pensamento que o inspirou.
Direi mais: no Museu de Ílhavo em que à Etnografia marítima é dispensado particular acolhimento, onde cada objecto nos evoca o Oceano e o trabalho árduo e ignorado do nosso marinheiro, a realização do Artista valoriza-se com o especial ambiente que a cerca; a atitude daquela figura rude, meramente simbólica na sua origem, humaniza-se mais e adquire agora maior compreensão: ganha em naturalidade o que, porventura, possa perder em valor de símbolo colocada neste meio, todo ele de evocação marítima também.
Desde a máscara enrugada pelo vento cortante de largos mares, fronte contraída dominando a emoção, atenção concentrada no horizonte distante, procurando divisar a linha da costa, até o oleado e o sueste por aquele corpo envergados, tudo se transmudou ali no marinheiro ilhavense que não receia desafiar as porcelas medonhas nem as vagas alterosas dos mais longínquos mares do globo, onde a vida de tantos tem sido o preço da heróica aventura constantemente renovada.
Como a bordo dos humildes veleiros de Ílhavo, parece também que os nossos ouvidos ouvem bradar:
“ – Seja louvado e adorado Nosso Senhor Jesus Cristo! Leva a cima, ó Senhores do quarto, olha a quem toca o leme e a vigia!”,que tal é o tradicional chamamento do quarto, à voz do qual o “Homem do Leme” se encaminha ao seu posto de confiança e ao mesmo tempo de provação e sacrifício por toda a tripulação.
-“Seja louvado e adorado Nosso Senhor Jesus Cristo”, pronuncia ele ainda ao chegar junto do camarada que vai render.
E logo se descobre, se o tempo o permite, faz o sinal da cruz que o verdadeiro homem do mar jamais esquece, e recebe o leme das mãos enregeladas que o precederam, ouvindo em resposta à sua secular saudação, a breve e sentida fórmula, igualmente consagrada por milhares de cruzeiros dos navegadores de Portugal – “ Para sempre seja bendito!”
Na religiosidade do momento sem par, um arrepio de emoção sincera passa naqueles dois homens fortes, em pleno alto mar, em face de Deus e do mistério insondável das águas.
Tudo isto, com particular felicidade, a escultura de Américo Gomes evoca, e eu sinceramente rejubilo por ver a expressiva obra de arte no Museu da minha terra natal - glorificação do trabalho do mar, para quem o souber compreender que organizei e que tenho a honra de dirigir.
O Artista, procurando um símbolo de ordem geral que consubstanciasse a própria vida marítima, realizou afinal, a plasticização do marinheiro de Ílhavo, que sulca todos os mares, intemerato, e tripula todos os navios.
Na Arte como na Vida ! “

António Gomes da Rocha Madail
(Director do Museu Municipal de Ílhavo )



O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-Rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»

Fernando Pessoa
In Mensage

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Volvo Ocean Race - Puma


Depois de desmastrar na passada segunda-feira, o VO70 da Puma está a caminho de Tristão da Cunha onde será carregado num barco com destino a Cape Tow. estão a navegar com um velame improvisado e a motor. Claro está que as reservas de combustível destas embarcações é muito limitada. Sorte! O porta contentores Zim Monaco, com os seus 257 metros, acedeu a parar (!) para fazer de estação de serviço em pleno oceano... Forneceu uma serie de jerrycans com combustível que foram entregues no Puma com a ajuda de cordas!

Pé de Vento - Info 23/11/2011


O tempo tem dado algum descanso ao nosso pessoal o que naturalmente ajuda animar o moral e permitiu que a pesca acontece-se de novo. Já lá vão mais dois dourados. Muito peixe fresco para a rapaziada!
Para variar a dieta de tanto peixe, a janta de hoje foi para o borrego, comida liofilizada.
Do nosso contacto de hoje, a tripulação mostrou-se muito animada, sente-se claramente influencia, no estado de espirito, criado pela aproximação da chegada ao destino.
Este mortal é excelente para os ajudar nesta ponta final, que sem margem para duvidas a mais difícil de toda a viagem. Quer pelo cansaço, quer pelo vento forte, quer pela direcção do vento, quer pela vaga, quer pela chuva, quer pelo calor, quer pela humidade na cabine, quer por algum cheiro a gasóleo (dos abastecimentos), enfim tudo contra. Como disse o nosso CV, vão-se fazer marinheiros nesta ponta final.
A navegação não está a ser fácil, mantém-se a bolina cerrada, no dia de hoje sem apoio de motor, mas notando-se a quebra no andamento. No entanto, ainda dentro das singraduras previstas para a viagem.
O ultimo registo de rasteio e das 20:50.
Até esta hora e no dia de hoje foram percorridas 108 milhas náuticas e um total desde Luanda de 2.503.


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Pé de Vento - Info 22/11/2011


A noite passada o vento caiu. Foi bom, pois permitiu aos nossos tripulantes um bom descanso. Dormiram bem e umas boas horas, tendo recuperado bastante do cansaço.
Durante o dia o vento não foi o melhor, obrigando a bolinas cerradas com apoio de motor e a constantes correcções de rota. Fez-se sentir uma quebra no andamento a que nos tem habituado.
As nossas conversas de hoje foram animadas, mostrando os dois uma boa disposição que ja sentia alguma falta.
Caminhamos a passos largos para o final desta primeira perna.
O ultimo registo de rasteio é das 23:59.
Até esta hora e no dia de hoje foram percorridas 116 milhas náuticas e um total desde Luanda de 2.394.


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Pé de Vento - Info 21/11/2011


Pois acredito que este fosse o aspecto do António ao ver o que se aproximava....
Na verdade o Pé de Vento navega entre uma depressão e uma alta pressão, bem no limiar das duas, graças ao nosso homem da meteorologia, Capitão Vingança, que nos tem guiado no rumo certo por entre estas massas brutais geradas pela mãe natureza, com um inigualável savoir faire.
No entanto, não deixa de haver marcas.
A mais positiva é sem duvida o regresso do animo forte e combativo da tripulação consequente da luta que tem de travar com estas adversidades do mar. Estão os dois muito mais animados!
Transcrevo na parte que interessa um correio do nosso Capitão Vingança sobre o que se passa neste momento, como segue:

QUOTE

A noite foi bastante dura com ventos de 30 a 35 knots. E agora a pressão está a estabilizar a 1013 milibares com possível subida a noite para 1016 mlb mais uma “Porrada” nada que o “Pé de vento” não suporte.
Os ventos como é de esperar agora é sempre da mesma direcção N ou NNE e na sua aproximação serão sempre bastantes fortes.
As líricas navegações de balão magico acabaram.
Agora é a realidade, estas cerca de 800 n/m vão fazer de uma propagandeada velejada nos trópicos numa realidade que fará deles marinheiros.
Possivelmente jamais iram em fantasias de marinheiros de bar, pois agora estão encarando a realidade da qual vão sair vencedores.
Ainda bem que o Saraiva Lima “Desinfectou” com os seus rituais a embarcação.
Têm a minha palavra.

João E. F. da Costa
(Capitão Vingança)
 UNQUOTE

Um bem haja Capitão.

Na verdade eles estão bem, naturalmente que este tempo além do ventos de 30 a 35 nós, trás consigo, vaga, chuva e muita, mas muita água. Como acontece muito nestas viagem, está a tornar-se o que vulgarmente chamamos uma viagem molhada... acabou a roupa seca, acabou a cabine seca, acabou o colchão seco, sempre muita e muita água!
Como diz o nosso Capitão, os nossos homens vão se fazer marinheiros.
A alimentação nestas condições não é tarefa fácil. as refeições de hoje foram na base de massas chinesas pré preparadas, as velhas noodles, e que mais uma vez são um caso serio as conseguir fazer chegar á boca sem espalhar tudo pelo chão.
Amanhã parece, que neste ambiente, vamos ter uma sessão de grande limpeza a bordo, muito terapeutico para o estado de espirito.
As condições meteorológicas obrigam á recolha do pano, mesmo assim navegam a médias muito perto dos onzes nós!
Com cerca de 500 milhas náuticas por percorrer e a manter-se este cenário meteorologico, que tudo o indica, contamos com a chegada deles lá para dia 26 ou 27 do corrente. Apenas uma previsão lata.
O ultimo registo de rasteio é das 21:17.
Até esta hora e no dia de hoje foram percorridas cerca de 110 milhas náuticas e um total desde Luanda de 2.279.


Mar revolto!

Isto é mar de verdade. Obrigado ZD :-)

MAR REVOLTO

domingo, 20 de novembro de 2011

Pé de Vento - Info 20/11/2011


Dificuldades com os acessos á internet não permitiram por no ar a informação do Pé de Vento no dia de ontem.
Reposta a normalidade, voltamos ás nossas crónicas.
Faz cerca de 48 horas as comunicações com o Pé de Vento tem sido muito complicadas. A ligação satélite está com uma qualidade muito fraca. De forma que as poucas conversas com alguma qualidade tem se centrado na discussão de alguns aspectos técnicos, pouco relevantes para estas crónicas.
Na verdade a tripulação está bem, mas deixa transparecer algum e natural cansaço de 15 dias seguidos de mar. Sente-se a ansia de chegar.
O vento reduziu consideravelmente, baixando as médias que nos vinham habituando, mesmo com o apoio do incansável Yanmar.
Nota-se claramente o final dos alisios e da corrente favorável.
Podemos apontar para, ainda com alguma margem de erro, uma chegada dentro de 5 a 6 dias, a confirmar nos próximos dias com a avaliação das milhas realmente percorridas.
O ultimo registo de rasteio é das 19:07.
Até esta hora e no dia de hoje foram percorridas cerca de 116 milhas náuticas e um total desde Luanda de 2,168.